terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Uma história no Reino Encantado de Lisboa

Esta história passa-se no Reino Encantado de Lisboa, mais propriamente na zona de loucura e de amalgama de estilos e pessoas conhecida como Bairro Alto, terreno desconhecido e complicado para nativos do Reino Negro da Amadora, mas que com bravura tiveram de enfrentar para o restabelecimento de rotas de troca comercial.

Ao longo destas linhas será narrada a aventura de 4 cavaleiros, que tinham a difícil missão de conseguir penetrar nas entranhas desse território inóspito, concluir a sua missão e de lá saírem com vida.

A jornada iniciara-se bem cedo, pois os cavaleiros tinham notícias de que quanto mais cedo chegassem ao Reino Encantado de Lisboa, melhor seriam as suas hipóteses de passarem despercebidos. Para isso tiveram de se aviar com antecedência lá para os lados da Funcheira, graças ao Conde BP, que a troco de 5 moedas lhes forneceu modo de transporte capaz de enfrentar o longo caminho.
Aqui começou a primeira dificuldade, pois o cavaleiro Castelo tinha um ritmo próprio, bem diferente do ritmo dos outros cavaleiros e começou logo a acalmar os outros para não galoparem tão depressa. Assim com o cavaleiro Tomé, que ao deixar o estábulo do Conde BP, ia também lá deixando alimento para o seu transporte, não fora o aviso dos outros cavaleiros e certamente não teria sobrevivido a esta longa jornada.

O caminho foi animado e correu rápido, encontramos até uma charrete em que dois jovens nobres eram guiados por um mordomo que os levava para o mesmo local. Esses nobres olharam para nós com desconfiança, pois decerto que eles vinham do Reino Abastado de Cascais e é sobejamente conhecido o olhar superior com que os habitantes de tal Reino têm para estrangeiros.

Depois de umas dificuldades para deixar o transporte, afinal o Reino Encantado de Lisboa tem muitos cavalo e ainda mais burros, começou a nova demanda no meio desse terreno de histórias e aventuras lendárias.
O local estava calmo, afinal os rumores confirmavam-se, com esse facto foi fácil perceber e determinar parte da geografia do local e estabelecer uma rota entre aqueles que seriam os nosso contactos, o Chico Imperial e um Oriental com o nome de código "Arroz Doce". Por um maior conhecimento de causa fomos ter com o o Chico Imperial para nos ambientarmos ao local e tentarmos passar por locais.
Essa fase foi sucesso absoluto, dado à nossa capacidade e também as atenções geradas pelos nativos do Reino Açucarado de Queluz, que cativaram logo todos em redor.
Com esta fase concluída, aproveitámos para partir em busca do Oriental "Arroz Doce", numa tarefa que já se revestia de alguma dificuldade, o Sol já se tinha posto e muitas das figuras mais obscuras já passeavam pela rua. Contudo, graças ao poder de orientação do Cavaleiro Tomé ("Quem é que é o Geógrafo aqui caralho???"), conseguimos rapidamente localizar o "Arroz Doce". Estabelecemos aí uma troca comercial que se revelou de pouco sucesso, pois o produto que nos foi oferecido era nitidamente de uma qualidade inferior àquele que nos tinha chegado e pelo qual tínhamos caminhado tanto. Tivemos por isso de regressar ao Chico Imperial, pois era aquele que minimamente cumpria com os nossos requisitos, não só os nossos, mas os de muitos, tal já era a quantidade de pessoas que se acotovelavam para conseguir chegar àquele néctar.
Com dificuldade fomos capazes de conseguir novamente estabelecer uma troca com sucesso e tivemos ainda local para satisfazer algumas necessidades básicas. Depois disto decidimos ficar por aquelas terras durante um tempo, por forma a conseguir perceber melhor o ambiente e aproveitar também para nós algum do produto que tínhamos vindo buscar. Nisto se gerou uma alegre conversa, regada de muito riso e boa-disposição, onde o Cavaleiro Magalhães encontrou um amigo dos tempos da escola de Cavaleiros do Reino Negro da Amadora, mais conhecida como Liceu, que agora frequenta também a escola de Magias Negras de Engenharia conhecida com Técnico.

Depois de devidamente instalados decidimos tentar a nossa sorte, com perícia e engenho conseguimos sacar mais do néctar do Chico Imperial sem que qualquer moeda saísse dos nossos bolsos. É claro que depois disto tivemos de sair daquele lugar por um tempo, dando umas voltas pela região. Nesse entretanto decidimos experimentar mais uma das especiarias locais, mas sem moedas, nem mais mercadoria para a troca tivemos de apelar para a técnica da interpolação ("Sócio, orientas um night?"). Como nativos do Reino Negro da Amadora foi fácil alcançar essa tarefa, tarefa na qual o Cavaleiro Castelo se sentiu bem em alta, assim como o Cavaleiro Magalhães que conseguiu arranjar fonte de ignição para todos.
Nesta parte já o deus Baco tinha tomado conta dos nossos espíritos, mas notava-se claramente a sua predominância no Cavaleiro Tomé, pelo que a sua memória já o atraiçoava, com lapsos constantes de amnésia e de exaltação ao ser agarrado para não se perder. ("Deslarga-me caralho!")

Depois disto os bravos Cavaleiros ainda se aventuraram novamente numa nova ida ao Chico Imperial, mas desta vez sem sucesso, as inúmeras pessoas, a falta de mercadoria e de moedas privaram nova troca comercial, mas é nesta altura que somos interpolados por alguém do Reino Tauromáquico de Coruche, que vinha acompanhado por duas criaturas bem estranhas. Duas pajens que a certa altura se divertiam a rir sozinhas contra a parede, um espectáculo verdadeiramente deprimente. Valeu aqui a sensatez do Cavaleiro Coelho, que em bom tempo soube lidar com a situação e nos retirar desta situação, no mínimo, estranha.

Depois disto e já nos limites da região do Bairro Alto, ficamos encostados à muralha, esfomeados e sedentos à espera que alguma alma caridosa nos pudesse auxiliar, nisto surgem dois comerciantes do Reino Mercante da Praça de Espanha que a troco de dois cavalos e parte das vestes nos saciaram com uma iguaria foleira, mas que na altura soube bastante bem. É nesta altura que surge também um Cavaleiro do Reino Convencido de Castela, que vinha acompanhado de uma donzela, a qual cordialmente e educadamente cumprimentámos, mas o cavaleiro não percebeu, normal eles nunca percebem nada e começou a insultar-nos, valeu a nossa calma e frieza, porque senão tínhamos, nas palavras de um Cavaleiro, "trincado o meia leca todo!"

Depois de toda esta aventura, tivemos de vir a meias nos cavalos, mas depois de tudo o que nos aconteceu isso foi o menos. Esta história já correu muita gente e já muito cavaleiro e donzela pretende fazer a mesma jornada, pode ser que futuramente mais histórias e lendas se formem em tão distinto lugar.

A Génese

Nos tempos "genosíacos" em que, criança e “dono do mundo”, ajudava ainda, o meu mui nobre criador no trabalho duro dos estábulos, a época era de paz!
O território outrora conhecido por Terra Meã de Lisbona, era reinado por sangue aristocrata, que controlava não só a cidade de Lisbona como todos os seus reinos próximos e adjacentes, numa prosperidade económica, militar e de glória para a nossa pátria.
Mas os podres desta Terra pacífica foram crescendo.
Sangue monárquico foi derramado, enquanto o reino se dissociava em inúmeros e pequenos condados liderados por novos fidalgos sedentos de glória e reputação para o seu nome, sedentos de conquistas e riquezas, sedentos de poder e guerra. Esta nova aristocracia cresceu e ganhou força, mas uma força assente na individualidade, uma força com fome de glória pessoal. E assim mergulhou, esta Terra Meã de Lisbona, outrora próspera e ordeira, num sem números de exíguos territórios, cada um sob o domínio de um distinto senhor, mas todos eles análogos no seu desejo demoníaco de mais poder, sem dó nem misericórdia nos métodos para o conquistar.
Os anos foram passando, e esta terra em tempos florescida, afundou-se cada vez mais nas tenebrosas escuridades dos desejos dos mais fortes.


Porém, findos uns sem número de anos que a minha oportuna memória não ousa numerar, uma pequena esperança brota nos corações frios e severos dos habitantes de um destes pequenos reinos desta extensa Terra. Uma crença numa liberdade roubada, uma crença numa fortuna perdida circula por um número cada vez mais respeitável destas ingénuas mentes que povoam o contrafeito Reino Negro da Amadora.


Troveja fortemente sobre esta cidadela.
O Reino Negro respira, sobre uma chuva intensa e interminável, uma ilusória paz da madrugada. As habitações medievais multiformes do reino acolhem gratamente uma chuva furiosa, que limpa lentamente das suas pedras, o sangue há pouco tempo derramado, os rastos das trocas comerciais demoníacas que se estabeleceram nas últimas horas, as conspirações planejadas ultimamente, ou os boatos transitórios que vão e vêm.
Janelas fechadas, portas trancadas, a cidadela primordial do Reino Negro da Amadora, vive uma noite de descanso há muito almejada pelos seus povoadores.
Mas a morte não dorme.
Contudo, os dias de maior negrume parecem já uma miragem: o senhor da guerra deste reino caiu aos pés dos mais pobres, e tudo, devido a um pequeno grupo de cavaleiros negros que estão acima da lei neste pequeno condado. Eles são a lei neste Reino Negro da Amadora!
Este pequeno grupo, todos eles de origem em sangue nobre antepassado, e todos eles unidos por um sentimento de amizade mais forte do que a própria morte, perseguem e almejam cheios de força e alento a glória passada da sua pátria!
O seu destino predilecto dá pelo nome de condado do Bairro Alto. Foi nesta zona que estes cavaleiros já viveram inúmeras aventuras. É nesta zona que este grupo viverá certamente mais epopeias dignas de registo, pois, embora os labirintos e as dificuldades sejam muitas, é nesta terra que se sussurra existirem as chaves e as decifrações para a liberdade de toda a Terra Meã de Lisbona. Mas os cavaleiros negros do Reino da Amadora não se cingem a tal bairro, e cavalgam convictos por toda a pátria, esperançosos num reino melhor e sedentos de uma boa façanha.
Peregrinam, ora tranquilamente ora de espadas empunhadas, os reinos multipartidos desta Terra Meã em tempos afortunada. Conquistam direitos, impõem deveres, estabelecem trocas comerciais, palmilham novos caminhos, o céu é o limite para a coragem destes cavaleiros na sua demanda pela desaparecida glória do seu povo, da sua pátria!


Encontramos hoje este afoito grupo, no seu local predilecto de reunião. Numa estalagem local, à qual, o seu proprietário atribuiu o nome em honra do seu mais novo rebento, a sua mais nova donzela.

Hoje, este destemido grupo descansa e planeia as suas próximas cavalgadas pela liberdade. Hoje, este grupo traça conscientemente os seus próximos movimentos, mas não muito longe se encontram os dias em que novamente cavalgarão pelo seu reino. Pela sua honra! Não muito longe se encontram os dias em que estes cavaleiros farão com os seus próprios punhos, a história desta Terra Meã que em tempos foi minha.
Esses dias chegarão em breve como chega o cantar do galo pela alvorada, e eu viverei para vos contar essas grandiosas aventuras!


Dërdeon, o Escriba